No âmbito da unidade curricular de Jornalismo Especializado II surgiu a proposta de fazer um trabalho jornalístico na área da saúde. Encarando este desafio, optei por fazer entrevistas sobre a Diabetes e a Epilepsia a uma profissional de saúde, que nos dá a conhecer um pouco mais sobre estas doenças e também as suas opiniões sobre alguns aspetos. A Depressão foi também um dos temas abordados numa entrevista, desta vez a uma estudante de Psicologia, que responde às perguntas segundo a sua visão enquanto futura psicóloga e, também, mediante os conhecimentos adquiridos ao longo da licenciatura.
|| Diabetes
Milene Fernandes: O que é a diabetes?
|
Perfil Drª Vânia Teixeira |
Vânia Teixeira: A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza por hiperglicemia (aumento do nível de glicose/açúcar no sangue) e pelo metabolismo anormal dos carbohidratos (açucares) devido a um defeito na secreção e/ou ação da insulina(1).
MF:Quais os fatores de risco desta doença?
VT:
- História familiar de diabetes em parentes de 1° grau
- Diabetes gestacional
- Hipertensão arterial sistémica
- Alterações prévias da regulação da glicose
- Crianças com peso igual ou superior a quatro quilogramas à nascença
- Doentes com problemas no pâncreas ou com doenças endócrinas
- Indivíduos membros de populações de risco (negros, hispânicos, escandinavos e indígenas)
MF: A diabetes afeta maioritariamente crianças, jovens ou adultos? Existe alguma explicação médica para isso?
VT: De uma maneira geral a diabetes afeta maioritariamente adultos. No entanto, é de referir a existência de dois tipos de diabetes mellitus (DM tipo 1 e tipo 2). A DM tipo 1 afeta maioritariamente crianças e jovens, enquanto que a DM tipo 2 afeta, na sua maioria, adultos (2).
Os dois tipos de DM têm diferentes patogenias, predisposições genéticas, fatores ambientais, fatores de risco, entre outros, envolvidos. No entanto, é de referir que o estilo de vida atual, tal como o aumento do sedentarismo e uma alimentação cada vez mais rica em gorduras, contribui em grande escala para o aumento do aparecimento e em idades cada vez mais precoces da DM tipo 2.
MF: É habitual ouvir-se dizer que os diabéticos necessitam de ter muito cuidado com a higiene dos pés. Porquê?
VT: O cuidado dos pés dos doentes com diabetes é extremamente importante para prevenir úlceras dos pés e amputações. A educação do doente diabético relativamente aos cuidados dos seus pés inclui recomendações no sentido de inspeção diária dos seus pés e cuidados especiais na sua secagem e corte das unhas. A deteção precoce e o tratamento de bolhas, úlceras, trauma e celulite podem prevenir a progressão para a osteomielite e a amputação.
MF: A diabetes pode ser considerada uma doença hereditária?
VT: Não. A história familiar de diabetes em parentes de 1° grau constitui um fator de risco. No entanto, não significa que por uma mãe ou pai ter diabetes os seus filhos também o terão. A manifestação da diabetes não depende exclusivamente de fatores genéticos mas sim de uma combinação destes com fatores ambientais. Existe sim uma maior ou menor predisposição genética para ter diabetes em diferentes indivíduos mas isso por si só não é suficiente para ter a doença. A idade, obesidade, o estilo de vida sedentário e todos os outros fatores de risco já referidos também contribuem para a manifestação da doença.
MF: Qual a relação que existe entre a diabetes e a obesidade?
VT: A obesidade é um fator de risco para a diabetes. Ou seja, um doente obeso tem um risco maior de vir a ter também diabetes. O excesso de gordura corporal interfere com o metabolismo da glicose e aumenta a resistência à ação da insulina e daí o relacionamento entre estas duas entidades.
MF: É verdade que esta doença pode causar impotência sexual?
VT: Sim, é verdade. Além de atingir o coração, rins e olhos a diabetes pode afetar, também, o sistema nervoso. Qualquer parte do sistema nervoso periférico ou autónomo pode ser afetado. A ereção do pénis é regulada, em parte, pelo sistema nervoso autónomo e quando este é atingido pode levar à disfunção eréctil no homem. No caso das mulheres, a disfunção sexual manifesta-se com a diminuição ou perda de excitação.
MF: Quais os cuidados que este tipo de doentes devem ter?
VT:
- Examinar e cuidar dos pés;
- Tentar seguir um estilo de vida saudável;
- Controlar o peso;
- Controlar a tensão arterial;
- Manter os níveis de colesterol e triglicéridos controlados e dentro dos parâmetros aconselhados pelos médicos.
- Praticar atividade física regular;
- Evitar o tabaco
- Controlar diariamente a sua diabetes, desempenhando um papel ativo no seu tratamento
- Tomar corretamente a medicação;
- Contactar a equipa de saúde se verificar que está mal controlado ou se apresentar hipoglicemias (níveis de glicose/açúcar baixos no sangue) graves, ou ainda se surgirem sintomas de infeção;
- Cumprir o plano de vigilância e terapêutica;
- Usar corretamente os materiais de controlo e tratamento;
- Utilizar corretamente o Guia do Diabético disponibilizado pelo médico assistente.
MF: Para além dos procedimentos normais, existem outro tipo de soluções para tratar a doença? VT: O tratamento da DM tipo 1 passa pela correta administração de insulina para manter um bom controlo glicémico (manutenção dos níveis de açúcar no sangue o mais próximo possível dos valores considerados normais) associado a uma dieta adequada e à prática regular de exercício físico. Relativamente à DM tipo 2, a maioria das vezes basta que a alimentação seja adequada e que o exercício físico passe a fazer parte da rotina diária para que, com a ajuda de outros medicamentos específicos (que não a insulina; geralmente são fármacos que atuam no pâncreas, estimulando a produção de insulina) a diabetes consiga ser perfeitamente controlada pelo doente e pelo médico. Seguindo estas recomendações, um doente com diabetes garante a diminuição do risco de tromboses e ataques cardíacos, a prevenção de doenças nos olhos e nos rins e da má circulação nas pernas e nos pés.
É este o tratamento atual para a diabetes e não existem outros métodos cientificamente comprovados, para esta patologia.