quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Doenças Estigmatizadas na Sociedade Atual

No âmbito da unidade curricular de Jornalismo Especializado II surgiu a proposta de fazer um trabalho jornalístico na área da saúde. Encarando este desafio, optei por fazer entrevistas sobre a Diabetes e a Epilepsia a uma profissional de saúde, que nos dá a conhecer um pouco mais sobre estas doenças e também as suas opiniões sobre alguns aspetos. A Depressão foi também um dos temas abordados numa entrevista, desta vez a uma estudante de Psicologia, que responde às perguntas segundo a sua visão enquanto futura psicóloga e, também, mediante os conhecimentos adquiridos ao longo da licenciatura.

|| Diabetes

Milene Fernandes:  O que é a diabetes?
Perfil Drª Vânia Teixeira
Vânia Teixeira: A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza por hiperglicemia (aumento do nível de glicose/açúcar no sangue) e pelo metabolismo anormal dos carbohidratos (açucares) devido a um defeito na secreção e/ou ação da insulina(1).

MF:Quais os fatores de risco desta doença?
VT:
  •   Idade superior a 45 anos
  •  Obesidade
  • História familiar de diabetes em parentes de 1° grau
  • Diabetes gestacional
  • Hipertensão arterial sistémica
  • Alterações prévias da regulação da glicose
  • Crianças com peso igual ou superior a quatro quilogramas à nascença
  • Doentes com problemas no pâncreas ou com doenças endócrinas
  • Indivíduos membros de populações de risco (negros, hispânicos, escandinavos e indígenas)

MF: A diabetes afeta maioritariamente crianças, jovens ou adultos? Existe alguma explicação médica para isso?
VT: De uma maneira geral a diabetes afeta maioritariamente adultos. No entanto, é de referir a existência de dois tipos de diabetes mellitus (DM tipo 1 e tipo 2). A DM tipo 1 afeta maioritariamente crianças e jovens, enquanto que a DM tipo 2 afeta, na sua maioria, adultos (2).
Os dois tipos de DM têm diferentes patogenias, predisposições genéticas, fatores ambientais, fatores de risco, entre outros, envolvidos. No entanto, é de referir que o estilo de vida atual, tal como o aumento do sedentarismo e uma alimentação cada vez mais rica em gorduras, contribui em grande escala para o aumento do aparecimento e em idades cada vez mais precoces da DM tipo 2.

MF: É habitual ouvir-se dizer que os diabéticos necessitam de ter muito cuidado com a higiene dos pés. Porquê?
VT: O cuidado dos pés dos doentes com diabetes é extremamente importante para prevenir úlceras dos pés e amputações. A educação do doente diabético relativamente aos cuidados dos seus pés inclui recomendações no sentido de inspeção diária dos seus pés e cuidados especiais na sua secagem e corte das unhas. A deteção precoce e o tratamento de bolhas, úlceras, trauma e celulite podem prevenir a progressão para a osteomielite e a amputação.

MF: A diabetes pode ser considerada uma doença hereditária?
VT: Não. A história familiar de diabetes em parentes de 1° grau constitui um fator de risco. No entanto, não significa que por uma mãe ou pai ter diabetes os seus filhos também o terão. A manifestação da diabetes não depende exclusivamente de fatores genéticos mas sim de uma combinação destes com fatores ambientais. Existe sim uma maior ou menor predisposição genética para ter diabetes em diferentes indivíduos mas isso por si só não é suficiente para ter a doença. A idade, obesidade, o estilo de vida sedentário e todos os outros fatores de risco já referidos também contribuem para a manifestação da doença.

MF: Qual a relação que existe entre a diabetes e a obesidade?
VT: A obesidade é um fator de risco para a diabetes. Ou seja, um doente obeso tem um risco maior de vir a ter também diabetes. O excesso de gordura corporal interfere com o metabolismo da glicose e aumenta a resistência à ação da insulina e daí o relacionamento entre estas duas entidades.

MF: É verdade que esta doença pode causar impotência sexual?
VT: Sim, é verdade. Além de atingir o coração, rins e olhos a diabetes pode afetar, também, o sistema nervoso. Qualquer parte do sistema nervoso periférico ou autónomo pode ser afetado. A ereção do pénis é regulada, em parte, pelo sistema nervoso autónomo e quando este é atingido pode levar à disfunção eréctil no homem. No caso das mulheres, a disfunção sexual manifesta-se com a diminuição ou perda de excitação.

MF: Quais os cuidados que este tipo de doentes devem ter?
VT:
  •  Examinar e cuidar dos pés; 
  • Tentar seguir um estilo de vida saudável;
  • Controlar o peso; 
  • Controlar a tensão arterial;
  • Manter os níveis de colesterol e triglicéridos controlados e dentro dos parâmetros aconselhados pelos médicos. 
  • Praticar atividade física regular; 
  • Evitar o tabaco 
  • Controlar diariamente a sua diabetes, desempenhando um papel ativo no seu tratamento 
  • Tomar corretamente a medicação; 
  • Contactar a equipa de saúde se verificar que está mal controlado ou se apresentar hipoglicemias (níveis de glicose/açúcar baixos no sangue) graves, ou ainda se surgirem sintomas de infeção; 
  • Cumprir o plano de vigilância e terapêutica; 
  • Usar corretamente os materiais de controlo e tratamento; 
  • Utilizar corretamente o Guia do Diabético disponibilizado pelo médico assistente.

MF: Para além dos procedimentos normais, existem outro tipo de soluções para tratar a doença?
VT: O tratamento da DM tipo 1 passa pela correta administração de insulina para manter um bom controlo glicémico (manutenção dos níveis de açúcar no sangue o mais próximo possível dos valores considerados normais) associado a uma dieta adequada e à prática regular de exercício físico. Relativamente à DM tipo 2, a maioria das vezes basta que a alimentação seja adequada e que o exercício físico passe a fazer parte da rotina diária para que, com a ajuda de outros medicamentos específicos (que não a insulina; geralmente são fármacos que atuam no pâncreas, estimulando a produção de insulina) a diabetes consiga ser perfeitamente controlada pelo doente e pelo médico. Seguindo estas recomendações, um doente com diabetes garante a diminuição do risco de tromboses e ataques cardíacos, a prevenção de doenças nos olhos e nos rins e da má circulação nas pernas e nos pés.
É este o tratamento atual para a diabetes e não existem outros métodos cientificamente comprovados, para esta patologia.

MF: A acupuntura pode ajudar no tratamento? Como?
VT: A acupuntura é um ramo da Medicina Tradicional Chinesa e um método de tratamento considerado complementar de acordo com a nova terminologia da Organização Mundial da Saúde (OMS). No que diz respeito à Diabetes desconheço a existência de alguma utilidade para o seu tratamento.

MF: Existem alguns mitos sobre esta doença?
VT: Sim. Os mitos estão sempre presentes no imaginário da população, especialmente quando se fala em problemas crónicos, como a diabetes. No entanto, a falta de orientação e informação correta pode levar a pessoa a cometer alguns erros. Por isso, as dúvidas devem ser tiradas com o médico assistente. Saber a verdade sobre a diabetes é fundamental para o bom controle da glicemia. Não é incomum um doente diabético perguntar se pode tomar determinado chá e tentar não usar a medicação ou acharem que a insulina vicia. A insulina não promove qualquer tipo de dependência química ou psíquica e os chás não curam a diabetes.

MF: A sua experiência na área da saúde leva-a a acreditar que a população está consciencializada e informada sobre a diabetes, ou ainda há quem desconheça esta doença?
VT: Pela minha experiência a maioria da população já ouviu falar da doença. No entanto, uma percentagem considerável da população não está consciencializada da sua gravidade nem da importância de um controlo rigoroso e diário fundamental no tratamento/controle desta doença. Muitos, mesmo depois de devidamente informados pelo seu médico assistente relativamente aos riscos para a saúde do mau controlo da diabetes, continuam a cometer sistematicamente os mesmos erros.

MF: Prevê-se que a população diabética vai aumentar com o passar dos anos. Quais os fatores que, na sua visão enquanto médica, contribuem para o aumento da população diabética?
VT: Nos últimos anos tem-se assistido a uma grande alteração no estilo de vida das pessoas. Uma alimentação rica em gorduras e uma vida cada vez mais sedentária e, consequentemente, o aumento da obesidade são os fatores que mais têm contribuído para o aumento da população diabética.

MF: Portugal é o 5º país com maior número de diabéticos. Considera que a diabetes é uma “epidemia” fora do controle?
VT: Não penso que esteja fora do controle mas é fundamental que se continuem os esforços feitos até aqui no sentido de sensibilizar os doentes diabéticos da importância de uma alimentação saudável, da prática regular de exercício físico, do controlo do peso, do cumprimento da medicação, da vigilância regular pelo seu médico assistente e de todos os outros cuidados gerais já referidos anteriormente.

MF: Que tipos de apoios os diabéticos podem encontrar nos serviços de saúde?
VT: Atualmente os diabéticos têm todo o apoio necessário nos Centros de Saúde (CS)/Unidades de Saúde Familiar(USF) existindo mesmo uma consulta específica para doentes diabéticos feita pelo médico assistente e por um enfermeiro que, em conjunto, ensinam o doente a controlar a sua doença, esclarecendo todas as dúvidas que estes possam ter. Para isso, é fundamental que o doente esteja motivado, cumpra todas as recomendações e não falte às consultas marcadas. Estando bem controlado, um doente diabético diminui muito o risco de vir a ter outras patologias (Enfarte, AVC, Nefropatia diabética, retinopatia, neuropatia entre outras) prolongando a sua vida.




(1)Existem vários tipos de diabetes. No entanto, é a diabetes mellitus e, dentro desta, a diabetes mellitus tipo 2 que, sendo a mais frequente na população em geral, está no âmbito deste questionário.

(2) É importante referir que existem 2 tipos principais de diabetes mellitus (DM). A DM tipo 1 (ou insulinodependente) aparece mais frequentemente em indivíduos com menos de 30 anos, particularmente na infância e adolescência. Enquanto que a DM tipo 2 (ou insulino-independente) aparece, geralmente, depois dos 40 anos de idade. Apesar de, atualmente, se assistir ao seu aparecimento em idades cada vez mais jovens. De uma maneira geral, é a DM tipo 2 que mais atinge a população em geral e tem sido esta a que mais tem gerado preocupação uma vez que, além de ser diagnosticada mais tardiamente, quando é diagnosticada muitas vezes já existem lesões de órgãos-alvo (p.e. coração, rins, sistema nervoso).

|| Epilepsia

    Milene Fernandes: O que é a epilepsia?
    Vânia Teixeira: A epilepsia é uma patologia crónica cuja manifestação clínica principal é a ocorrência de convulsões caracterizadas por fenómenos súbitos, não provocados, alteração da consciência ou movimentos involuntários. As crises devem-se à  atividade elétrica cerebral anormal e são um sinal comum de disfunção cerebral.(1)

    MF: Como se deteta esta doença?
    VT: Para diagnosticar esta doença é essencial obter uma história médica detalhada, nomeadamente a descrição do doente sobre a sua experiência ou o testemunho exato de alguém que presenciou uma crise. É importante saber em que situação surgiu a crise, se foi a primeira vez que aconteceu ou não, a idade do doente, se o doente sentiu uma “aura” durante ou depois da crise, se há ou não história de abuso de drogas. Examinar o doente com um exame físico geral e avaliar as principais funções do sistema nervoso através do exame neurológico. Solicitar exames gerais, tais como análises ao sangue (muitas doenças podem ser acompanhadas de crises epiléticas, tais como diabetes, hipoglicemia, distúrbios da tiroide, hepáticos, renais etc.). O eletroencefalograma (EEG) é o exame mais importante para o diagnóstico. No entanto, como este exame é normalmente feito entre as crises e não durante a crise a presença de algumas anormalidades neste exame não podem por si só comprovar ou eliminar o diagnóstico de epilepsia. De notar que cerca de 2% de pessoas normais podem ter um EEG anormal. A ressonância magnética (RMN) cerebral complementa o EEG e deve ser pedida a doentes com crises refratárias e sem etiologia definida. A tomografia por emissão de positrões (PET) e a tomografia computorizada com emissão de fotão único (SPECT) também se têm revelado úteis.
    Um diagnóstico preciso da epilepsia é fundamental para o seu tratamento.

    MF: A epilepsia é hereditária?
    VT:A epilepsia pode ter influências hereditárias, mas os fatores genéticos que lhe estão associados ainda não foram identificados.
    A epilepsia pode ser também de causa traumática, vascular, neoplásica, infeciosa ou degenerativa. No entanto, na maioria das vezes a epilepsia é idiopática (não se consegue identificar uma causa).

    MF:Existe cura para a epilepsia?
    VT:Atualmente, a epilepsia não tem cura definitiva mas, em algumas pessoas, ela eventualmente desaparece.

    MF:Que situações podem levar um doente a ter uma crise?
    VT:A maioria dos doentes não tem um fator claro e consistente que desencadeie as suas crises epiléticas. Contudo, em alguns doentes as crises podem ser decorrentes de fatores específicos:
    • Mudanças súbitas da intensidade luminosa ou luzes a piscar (algumas pessoas têm ataques quando veem televisão, jogam no computador ou frequentam discotecas) 
    • Privação de sono 
    • Ingestão alcoólica 
    • Febre
    • Ansiedade 
    • Cansaço 
    • Algumas drogas e medicamentos 
    • Verminoses  (como a neuro cisticercose) 
    • Mudanças de temperatura corporal 
    • Nervosismo

    MF:Qual o tipo de tratamento que se administra a um doente epilético?
    VT: Em muitos casos é suficiente tratar a causa da epilepsia para as crises desaparecerem. Em doentes com crises únicas muitas vezes não é necessário qualquer tratamento. Nas crises recorrentes devem usar-se antiepiléticos(2) com o objetivo de fazer cessar completamente as crises. No entanto, em cerca de 20% dos doentes, a epilepsia não consegue ser totalmente controlada, mesmo com a combinação de 2 anti-epilépticos. Em casos selecionados a cirurgia poderá abolir as crises, com restauração da função neurológica normal.  

    MF: Quem tem epilepsia consegue ter uma vida normal? Como?
    VT: Sim. Se as crises forem controladas com medicação antiepilética e se alguns fatores que diminuem o limiar epilético (ponto a partir a partir do qual aumenta a probabilidade de acontecer um crise), alguns já referidos anteriormente, forem evitados, o doente consegue ter uma vida perfeitamente normal.  No entanto, nos casos em que não se consegue controlar devidamente as crises poderá haver algumas limitações como, por exemplo, na condução de veículos. Não é incomum que pessoas com epilepsia, especialmente crianças, desenvolvam problemas emocionais e de comportamento. Crises de frustração, depressão e suicídio são mais frequentes entre os doentes com epilepsia do que na população geral. A maioria das mulheres com epilepsia pode ficar grávida, mas deve discutir com o médico sobre a sua doença e medicamentos tomados. Mulheres com epilepsia têm 90% de hipóteses de ter um bebé saudável.

    MF: Existe uma controvérsia na relação deste tipo de doença com a prática de exercício físico. É ou não recomendável que uma pessoa com esta doença pratique algum tipo de exercício?
    VT:É recomendável que desportos que envolvam contacto corporal sejam evitados, a menos que as crises tenham sido completamente controladas por mais de um ano. São de evitar, também, saltos, mergulhos ou natação subaquática, alpinismo de grandes altitudes, boxe e futebol com contacto corporal.

    MF: Há quem defenda que este tipo de doentes deveria ter uma espécie de “Diário da Epilepsia”, com o intuito de fazer um registo de ocorrências de crises, para que, mais tarde, possam recordar-se e comunicar aos seus médicos. Considera esta prática viável e necessária?
    VT:Sim. É fundamental a descrição de uma crise pelo próprio ou por uma testemunha que tenha assistido a uma crise para se compreender qual o tipo de crise desenvolvida pelo doente para que seja feito um diagnóstico mais preciso.

    MF: Existe uma cirurgia que pode reduzir a intensidade das crises. Em que é que consiste e com que frequência se realizam este tipo de cirurgias?
    VT: A remoção cirúrgica das áreas cerebrais responsáveis pelas crises iniciou-se há cerca de 50 anos. No entanto, com as novas técnicas cirúrgicas e com novos métodos para identificar as áreas a remover, cada vez mais se fazem operações bem-sucedidas. A cirurgia pode ser praticada em crianças e adultos, mas não serve para todas as pessoas com epilepsia ou para todas que têm mau controlo das crises.
    Antes da cirurgia é necessária uma investigação intensiva no sentido de se identificar com precisão a localização de um pequeno foco epilético (local específico onde tem origem uma crise epilética) que seja ressecável (passível de ser removido, eliminado). De um modo geral podem ser feitos dois tipos de cirurgia: remoção da área cerebral responsável pela produção de crises e interrupção das vias nervosas ao longo das quais se espalham os impulsos que transmitem as crises.

    MF: Quais as consequências quando um paciente não toma corretamente a medicação prescrita?
    VT: Quando um doente epilético não toma a medicação de forma correta o limiar epilético diminui e a probabilidade de ter uma crise torna-se maior.

    MF: A epilepsia pode levar à morte?
    VT: O risco de morte súbita durante uma crise é muito baixo e quando ocorre geralmente acontece em formas severas de epilepsia com graves lesões cerebrais.




    (1)   O diagnóstico de epilepsia indica que um doente tem convulsões recorrentes, espontaneamente, ao longo do tempo. Uma crise convulsiva/convulsão isolada não é sinónimo de epilepsia. Qualquer pessoa pode sofrer uma convulsão, devido, por exemplo, a choque elétrico, deficiência em oxigénio, traumatismo craniano, baixa de açúcar no sangue, privação de álcool, abuso da cocaína (1 em cada 20 pessoas têm uma única crise isolada durante a sua vida). As crianças mais pequenas podem ter convulsões quando têm febre (convulsões febris), mas não representam epilepsia.

    (2)   Exemplos de medicamentos antiepiléticos: carbamazepina, etossuximida, gabapentina, fenobarbital, fenitoína, topiramato, valproato, entre outros. A escolha do antiepilético depende de cada caso individualmente e deve ter-se em consideração o tipo de crises. 

    || Depressão

      Milene Fernandes: O que é a depressão?
      Débora Pereira: A depressão é uma doença mental que se caracteriza por um sentimento de tristeza prolongada, perda de prazer pelas atividades em geral e, perda de energia ou cansaço fácil, bem como alterações ao nível do sono e do apetite.

      Débora Pereira
      (Estudante de Psicologia UTAD)
      MF: Quais são as causas da depressão?
      DP: A depressão é, atualmente, descrita como uma doença multifatorial, ou seja, com várias causas envolvidas no seu aparecimento. Embora as causas desta patologia possam variar de pessoa para pessoa, existem fatores que podem desencadear o seu aparecimento, nomeadamente as condições de vida adversas, o divórcio, a perda de um ente querido, o desemprego, a incapacidade em lidar com determinadas situações ou em ultrapassar obstáculos, o uso de determinado tipo de medicamentos e até mesmo a presença de outro tipo de doenças, como o cancro ou doenças infeciosas.

      MF: Que tipos de sintomas se manifestam?
      DP: Não existe um quadro padrão de sintomas para a depressão, mas sim sinais recorrentes que podem indiciar a presença da doença. De entre os sintomas mais comuns destacam-se a fadiga, o cansaço, a falta de confiança e de autoestima, a irritabilidade, a apatia, a falta de concentração, sentimentos de culpa e de incapacidade, etc.

      MF: A depressão pode ser hereditária?
      DP:Alguns estudos apontam os fatores genéticos e a história clínica familiar como uma condição de risco para a depressão, no entanto, não é claro a forma como ocorre essa transmissão.

      MF: Uma pessoa pessimista tem mais probabilidades de sofrer desta doença?
      DP: Como referi anteriormente não existe uma causa única para o desenvolvimento desta patologia, embora seja possível que umas pessoas estejam mais predispostas que outras, não se pode afirmar que isso seja o fator desencadeante. O contexto em que cada pessoa se desenvolve pode determinar em grande escala a sua saúde mental, pelo que, não é correto dizer que o pessimismo por si só despolete uma depressão.

      MF:  A depressão pode ser confundida com tristeza? Ou ambas estão relacionadas?
      DP: Sim, pode ser confundida na medida em que a tristeza é um dos sintomas mais visíveis em pessoas depressivas. Contudo é importante identificar se existe a real presença de um quadro depressivo, ou se a tristeza se deve a algo momentâneo.

      MF: A doença manifesta-se de maneira diferente entre homens e mulheres?
      DP: De um modo geral a sintomatologia não revela diferenças muito significativas, porém o sexo feminino é, sem dúvida, o mais afetado por este tipo de doença.

      MF: Existe uma faixa etária mais vulnerável à depressão?
      DP: O aparecimento da depressão pode ocorrer em qualquer faixa etária, todavia existem alguns momentos mais propícios para esse desenvolvimento, como a adolescência ou a velhice. Nas mulheres pode ocorrer também no pós-parto e durante a menopausa.

      MF: Ao notar sintomas de depressão, o profissional de saúde mais indicado a procurar é um psicólogo? Porquê?
      DP: Depende da sintomatologia manifestada e do tipo de depressão em causa. Nem sempre a psicoterapia é suficiente no tratamento da depressão, ela é particularmente útil nas situações ligeiras. Muitas vezes surge a necessidade de recorrer a medicamentos, designados por antidepressivos, sobretudo em depressões moderadas e crónicas. Pode também ser indicada a conjugação dos dois tipos de terapias, e nesse caso torna-se fundamental recorrer a um médico psiquiatra.

      MF: Um quadro de depressão pode trazer alterações e consequências no seio familiar?
      DP: Sim, a depressão pode causar um verdadeiro sofrimento tanto para a pessoa afetada como para os membros da família e outros entes queridos. Os familiares ligados a pessoas deprimidas são frequentemente vítimas ignoradas, uma vez que o impacto da depressão nas suas vidas é pouco valorizado. Alguns dos sintomas podem causar um desequilíbrio nas relações familiares, levando ao isolamento e até mesmo à separação conjugal.

      MF: Como é que a família deve lidar com essas alterações?
      DP: As relações de apoio entre membros da família são essenciais no tratamento diário da depressão. Neste sentido, os familiares devem acima de tudo assumir um papel de apoio, mostrando-se carinhosos, sensíveis e não pressionando a pessoa deprimida a sentir-se feliz e animada. Para além disso, os familiares devem ser responsáveis pelo controlo do tratamento, particularmente quando se trata de antidepressivos, pois muitas vezes não são administrados corretamente pelo paciente.

      MF: Deve ter-se algum comportamento especial para com os portadores desta doença, ou deve agir-se normalmente?
      DP: Acima de tudo deve ser visto como ser humano que é e não como portador de uma doença, que pode apenas ser passageira.

      MF: Enquanto estudante de psicologia, considera fácil e simples diagnosticar um quadro de depressão?
      DP: Não, bem pelo contrário. Como estudante todos os diagnósticos me parecem de uma dificuldade extrema, ainda mais quando se trata de doenças que por si só englobam uma complexidade de critérios de diagnóstico como é o caso das perturbações depressivas.

      MF: Diz-se que a depressão é uma das doenças do séc. XXI. Concorda com este tipo de afirmação? Porquê?
      DP: Sim, a prevalência da depressão tem sido um fenómeno de crescimento constante e a conjuntura atual faz prever que isso continue a aumentar cada vez mais. O clima que se vive na atualidade é muito alarmante e embora não existam números exatos nesta matéria estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra da doença, sem saber.

      MF: Um quadro de depressão deixa sequelas para a toda a vida ou tem cura definitiva?
      DP: Grande parte dos quadros depressivos pode ter uma remissão completa dos sintomas, sempre que seja bem acompanhado e medicado corretamente. Os tratamentos são, por norma, um pouco morosos, podendo demorar vários meses, contudo o mais importante é seguir corretamente o tratamento mesmo que se notem algumas melhorias, de forma a evitar futuras recaídas.



      MileneFernandes

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